Prevenção do estresse ocupacional em profissionais da saúde
Resumo
Introdução: Os profissionais de saúde podem sofrer de estresse ocupacional como resultado de falta de habilidades, pouco suporte social no trabalho e fatores organizacionais. Isso pode levar a problemas psicossomáticos, síndrome burnout, exaustão e piora da qualidade de vida e do serviço prestado.
Objetivos: Avaliar a efetividade de intervenções dirigidas ao ambiente de trabalho ou ao profissional comparadas a ne- nhuma intervenção ou a intervenções alternativas para pre- venir o estresse ocupacional de profissionais de saúde.
Métodos: Métodos de busca: Pesquisamos as seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, EMBASE, PsycINFO, CINAHL, NIOSHTIC-2 e Web of Science até novembro de 2013.
Critério de seleção: Foram selecionados ensaios clínicos randomizados (ECRs) que avaliaram intervenções para prevenção de estresse psicológico em profissionais da saúde. Para avaliar as intervenções organizacionais, estu- dos de série interrompida (ITSs) e ensaios clínicos tipo antes e depois (CBA) também preencheram nossos crité- rios de elegibilidade.
Coleta dos dados e análises: Dois autores avaliaram de forma independente a qualidade dos estudos e extraíram os dados. Para os estudos que usaram diferentes escalas para medir o estresse ou o burnout, calculamos a diferença média padronizada (DMP), pois os autores dos estudos utilizaram diferentes escalas para medir esses desfechos. Combinamos os estudos similares em metanálises e usamos o GRADE para avaliar a qualidade da evidência.
Principais resultados: Nesta atualização, adicionamos 39 novos estudos, resultando em 58 estudos (54 ECRs e quatro CBA) com 7.188 participantes. Classificamos as intervenções em: treinamento cognitivo-comportamental (CBT; n = 14), relaxamento físico e mental (n = 21), treinamento cognitivo- comportamental e relaxamento combinados (n = 6) e inter- venções organizacionais (n = 20). O seguimento foi menor que um mês em 24 estudos, um a seis meses em 22 estudos e mais de seis meses em 12 estudos. Classificamos os desfechos em estresse, ansiedade ou saúde geral.
Havia evidência de baixa qualidade de que o CBT combi- nado ou não com relaxamento não era mais efetivo do que nenhuma intervenção em reduzir o estresse no período de seguimento de um mês de seis estudos (DMP -0,27; interva- lo de confiança de 95%, CI, -0,66 a 0,13; 332 participantes). Porém, no período de seguimento de um a seis meses, em sete estudos (DMP -0,38, 95% CI -0,59 a -0,16; 549 participan- tes, 13% de redução de risco relativo), e para um seguimen- to maior que seis meses, em dois estudos (DMP -1,04, 95% CI -1,37 a -0,70; 157 participantes), o CBT com ou sem relaxa- mento reduziu mais o estresse do que nenhuma intervenção. Em três estudos, as intervenções CBT não levaram a efeito consideravelmente maior quando comparadas com alguma intervenção alternativa.
Em quatro estudos com seguimento de um mês, o rela- xamento físico (por exemplo massagem) foi mais efetivo em reduzir o estresse do que nenhuma intervenção (DMP -0,048, 95% CI -0,89 a -0,08; 97 participantes) e também em seis es- tudos com seguimento de um a seis meses (DMP -0,47; 95% CI -0,70 a -0,24; 316 participantes). Dois estudos não encon- traram diferença considerável do estresse entre as interven- ções massagem e intervalos extras.
Em seis estudos com seguimento entre um e seis meses, o relaxamento mental (por exemplo, meditação) levou a níveis de estresse similares aos de nenhuma intervenção (DMP -0,50, 95% CI -1,15 a 0,15; 205 participantes), mas em um estudo, de seguimento maior que seis meses, o relaxamento levou a me- nos estresse. Um estudo mostrou que o relaxamento mental reduz de forma mais efetiva o estresse do que ir a um curso de análise teórica e outro estudo mostrou que esse tipo de relaxa- mento é mais efetivo do que apenas relaxar em uma cadeira.
As intervenções organizacionais consistem em: mudanças nas condições de trabalho, suporte organizacional, mudança no cuidado, melhora das habilidades de comunicação e mudanças nos horários de trabalho. Mudar os horários de trabalho (de contínuo para intervalos aos finais de semana, e de escalas de duas semanas e não de quatro) reduz o estresse com DMP -0,55 (95% CI -0,84 a -0,25; dois estudos, 180 participantes). Porém, as outras intervenções organizacionais não foram mais efetivas do que intervenções alternativas ou nenhuma intervenção.
Todas as evidências, menos uma, foram graduadas como de baixa qualidade. Para o CBT, isso foi devido à possibilidade de viés de publicação, e para as outras comparações, pela falta de precisão e risco de viés. Apenas na comparação de relaxamento com nenhuma intervenção é que a evidência encontrada foi de média qualidade.
Conclusões dos autores: Há evidência de baixa qualidade que a CBT e o relaxamento físico e mental reduzem o estresse mais do que nenhuma intervenção, porém são equivalentes a intervenções alternativas. Também há evidência de baixa qualidade de que mudar os horários de trabalho pode diminuir o estresse. Outras intervenções organizacionais não tiveram efeito nos níveis de estresse. Precisamos de mais ECRs com pelo menos 120 participantes comparando a intervenção com uma intervenção placebo. As intervenções voltadas para as organizações precisam focar na redução de estressores específicos.
Referências
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