Atualidades em disforia de gênero, saúde mental e psicoterapia

Autores

  • Heloisa Junqueira Fleury Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Carmita Helena Najjar Abdo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Disforia de gênero, pessoas transgênero, psicoterapia, psicodrama, comportamento sexual, saúde mental

Resumo

A crescente visibilidade da comunidade de indivíduos transgêneros tem despertado interesse entre os profissionais de saúde para uma prática baseada no conhecimento dessa população (competências clínicas, conhecimento das normas de cuidados) e, principalmente, em competência cultural. A existência de dois gêneros (masculino ou feminino) foi questionada por novo paradigma (conceito de sexo não binário e diversidade de expressão da identidade de gênero). Nesse novo paradigma, as opções de acompanhamento para aqueles que desejam adequação física e do papel social de gênero são: terapia hormonal e cirurgias para adequação de características sexuais secundárias ou mais amplas — com a clareza de que a não conformidade entre o sexo atribuído ao nascimento e a identidade de gênero não é, por si só, patológica. Intervenções físicas e psíquicas são feitas quando o indivíduo transgênero reporta sofrimento com essa condição, isto é, a disforia de gênero. Tais intervenções visam atender às necessidades próprias de cada indivíduo. Estigma, preconceito e discriminação criam um ambiente social hostil e estressante que contribui para maior vulnerabilidade e consequente comprometimento da saúde mental. Experiências adversas relacionadas com a expressão da identidade de gênero resultam em expectativas de vitimização ou rejeição futuras e consequente “transfobia” internalizada. Profissionais de saúde mental devem abordar os efeitos negativos desse estigma, ajudando esses indivíduos a encontrar uma expressão de gênero confortável e, se for o caso, facilitar as alterações de papel de gênero ou até mesmo a revelação dessa condição em seu contexto familiar e/ou social, dependendo do que for mais saudável e desejável, caso a caso.

Biografia do Autor

Heloisa Junqueira Fleury, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Carmita Helena Najjar Abdo, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

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Publicado

2018-10-12

Como Citar

1.
Fleury HJ, Abdo CHN. Atualidades em disforia de gênero, saúde mental e psicoterapia. Diagn. tratamento. [Internet]. 12º de outubro de 2018 [citado 13º de junho de 2025];23(4):147-51. Disponível em: https://periodicosapm.emnuvens.com.br/rdt/article/view/153

Edição

Seção

Medicina Sexual