Competência cultural do profissional de saúde sexual

Autores

  • Heloisa Junqueira Fleury Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Carmita Helena Najjar Abdo Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Competência cultural, grupos minoritários, relações interpessoais, saúde sexual, opressão social

Resumo

Diferenças culturais impactam o relacionamento entre o profissional de saúde e o paciente. A competência cultural caracteriza-se por autoconsciência, conhecimento e habilidades, o que aumenta a flexibilidade, capacidade de adaptação e disponibilidade do profissional para aquisição de novos conhecimentos sobre a população atendida e sobre si mesmo. Quando ela está comprometida, ocorre a opressão cultural, imposição de padrões próprios, sem considerar raça, cultura, gênero e orientação sexual do paciente, mesmo que não intencionalmente. Populações mais vulneráveis à opressão cultural sofrem o estresse de minorias e microagressões. A consciência da diversidade depende do desenvolvimento da consciência crítica sobre a própria condição privilegiada. O racismo, numa dimensão individual, pode ser explícito (intenção deliberada de tratar uma raça como superior) ou implícito (expressão sutil com viés discriminatório, consciente ou não). O esforço para melhorar os serviços de saúde para grupos com diferenças culturais e étnicas tem sido focado no treinamento da competência cultural e avaliado por mudanças em conhecimento, atitudes, habilidades e comportamentos. Profissionais de saúde frequentemente consideram-se aptos para atender às necessidades de uma população multicultural, mesmo sem capacitação na área. No entanto, poucos reconhecem o próprio racismo, desequilíbrio de poder, vieses culturais e a necessidade de autorreflexão. O desafio para eles, especialmente para o profissional de saúde sexual, é o desenvolvimento da própria competência cultural, considerando vieses inconscientes e com maior foco na dimensão implícita no treinamento antidiscriminatório e no aumento da autoreflexão crítica.

Biografia do Autor

Heloisa Junqueira Fleury, Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Carmita Helena Najjar Abdo, Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria

Referências

Sue DW, Sue D. Counseling the culturally diverse: theory and practice. 5a ed. Hoboken: John Wiley; 2008. ISBN-10: 0470086327; ISBN-13: 978-0470086322. World Health Organization (WHO) 2006. Sexual and reproductivehealth. Defining sexual health. Disponível em: https://www.who.int/reproductivehealth/topics/sexual_health/sh_definitions/en/Stilos K, Doyle C, Daines P. Addressing the sexual health needs of patients with gynecologic cancers. Clin J Oncol Nurs. 2008;12(3):457-63. PMID: 18515244; doi: 10.1188/08.CJON.457-463.

Jongen C, McCalman J, Bainbridge R. Health workforce cultural competency interventions: a systematic scoping review. BMC Health Serv Res. 2018;18(1):232. PMID: 29609614; doi: 10.1186/s12913-018-3001-5.

Watt K, Abbott P, Reath J. Developing cultural competence in general practitioners: an integrative review of the literature. BMC Fam Pract. 2016;17(1):158. PMID: 27846805; doi: 10.1186/s12875-016-0560-6.

Fleury HJ, Orozco MC. Competência cultural: um aspecto da clínica. In: Marra MM, Costa LF, organizadores. Temas da clínica do adolescente e da família. São Paulo: Ágora; 2010. p. 25-35. ISBN: 9788571830691.

Business Dictionary. Cultural competency. Disponível em http://www.businessdictionary.com/definition/cultural-competency.html. Acessado em 2019 (Jun 19).

Meyer IH. Prejudice, social stress, and mental health in lesbian, gay, and bisexual populations: conceptual issues and research evidence. Psychol Bull. 2003;129(5):674-97. PMID: 12956539; doi: 10.1037/0033-2909.129.5.674

Kelleher C. Minority stress and health: Implications for lesbian, gay, bisexual, transgender, and questioning (LGBTQ) young people. Counselling Psychology Quarterly. 2009;22(4):373-9. doi: 10.1080/09515070903334995.

Sue DW, Capodilupo CM, Torino GC, et al. Racial microaggressions in everyday life: implications for clinical practice. Am Psychol. 2007;62(4):271-86. PMID: 17516773; doi: 10.1037/0003-066X.62.4.271.

Sue DW, Lin AI, Torino GC, Capodilupo CM, Rivera DP. Racial microaggressions and difficult dialogues on race in the classroom. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol. 2009;15(2):183-90. PMID: 19364205; doi: 10.1037/a0014191.

Stevens FL, Abernethy AD. Neuroscience and Racism: The Power of Groups for Overcoming Implicit Bias. International Journal of Group Psychotherapy. 2018;68(4):561-84, doi: 10.1080/00207284.2017.1315583.

Haen C, Thomas NK. Holding History: Undoing Racial Unconsciousness in Groups. International Journal of Group Psychotherapy. 2018;68(4):498-520. doi: 10.1080/00207284.2018.1475238.

Holroyd J. Implicit bias, awareness and imperfect cognitions. Conscious Cogn. 2015;33:511-23. PMID: 25467778; doi: 10.1016/j.concog.2014.08.024.

Shepherd SM, Willis-Esqueda C, Newton D, Sivasubramaniam D, Paradies Y. The challenge of cultural competence in the workplace: perspectives of healthcare providers. BMC Health Serv Res. 2019;19(1):135. PMID: 30808355; doi: 10.1186/s12913-019-3959-7.

Downloads

Publicado

2019-04-07

Como Citar

1.
Fleury HJ, Abdo CHN. Competência cultural do profissional de saúde sexual. Diagn. tratamento. [Internet]. 7º de abril de 2019 [citado 16º de outubro de 2025];24(2):64-6. Disponível em: https://periodicosapm.emnuvens.com.br/rdt/article/view/236

Edição

Seção

Medicina Sexual