Considerações sobre o transtorno parafílico
a interface entre a psiquiatria, a psicologia e a justiça criminal
Palavras-chave:
Transtornos parafílicos, direito penal, pedofilia, exibicionismo, sexualidadeResumo
O presente artigo versa sobre o transtorno parafílico (TP) cuja diferença nas práticas sexuais gera conotação pejorativa na sociedade, o que pode estar associado a dificuldade em compreender manifestações de desejo diferente e a relação entre crime sexual hediondo e parafilia. Indivíduos com TP apresentam interesse sexual intenso e persistente não voltado para a estimulação genital ou para carícias preliminares com parceiros humanos (fenótipo normal e maturidade física) e prévio consentimento para a atividade sexual. A parafilia está presente no repertório sexual individual da população geral com conteúdo de: humilhação, dominação, fetiche e bondage. A prática parafílica não visa à aproximação entre os parceiros e compromete, com o tempo, o relacionamento íntimo e/ou interpessoal e o trabalho. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) divide o transtorno em: voyeurista, exibicionista, frotteurista, masoquismo sexual, sadismo sexual, pedofílico, fetichista, transvéstico. O comportamento sexual parafílico pode ser dividido do ponto de vista criminal quanto à legalidade e à ilegalidade, com o consentimento e o não consentimento, em casos de adultos e comportamento parafílico com crianças e crianças pré-puberes. Ampliar a compreensão da interface entre a psiquiatria, a psicologia e a justiça criminal para a parafilia e o transtorno parafilico contribui para o diagnóstico (presença ou ausência de sofrimento), a avaliação e a punição do comportamento, com a presença ou não de vítima, e perspectivas psicológicas para o tratamento do transtorno parafílico, com a possibilidade de mudança no processo de excitação sexual, compreensão sintomatológica e desenvolvimento, ampliação do repertório do indivíduo.
Referências
Abdo CHN. Transtorno de preferência sexual. In: Abdo CHN, editor. Sexualidade humana e seus transtornos. São Paulo: Casa Editora; 2015. p. 237-49.
Abdo CHN, Spizzirri G, Scanavino MT. Transtorno da sexualidade e da identidade de gênero. In: Forlenza OV, Miguel EC, editores. Compêndio de clínica psiquiátrica. Barueri: Manole; 2012. p. 476-91.
Marshall WL, Fernández YM. Enfoques cognitivo-comportamentais para as parafilias: o tratamento da delinquência sexual. In: Caballo VE, editor. Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos. São Paulo: Santos Editora; 2015. p. 299-331.
American Psychiatric Association. Transtornos parafílicos. In: American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: ArtMed. 2014. p. 685-6.
Barnhill JW. Transtornos Parafílicos. In: Barnhill JW, editor. Casos clínicos do DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2015. p. 329-32.
Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Transtornos parafílicos. In: Sadock BJ, Sadock VA, editores. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: ArtMed; 2017. p. 593-9.
Moser C. DSM-5 and the Paraphilic Disorders: Conceptual Issue. Arch Sex Behav. 2016;45(8):2181-6.
Oliveira Junior WM. Comportamentos sexuais não convencionais e correlações com parâmetros de saúde física, mental e sexual em amostra de 7.022 mulheres e homens de cinco regiões brasileiras [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2007.
Merrick WA. Changes in DSM-5 Diagnostic Criteria for Paraphilic Disorders. Arch Sex Behavior. 2016;45(8):2173-9.
Joyal CC. Defining “Normophilic” and “Paraphilic” Sexual Fantasies in a Population-Based Sample: On the Importance of Considering Subgroups. Sex Med. 2015;3(4):321-30.
Kafka MP, Prentsky R. A comparative study of nonparaphilic sexual addictions and paraphilias in men. J Clin Psychiatry. 1992;53(10):345-50.
Joyal CC, Carpentier J. The Prevalence of Paraphilic Insterests and Behaviors in the General Population: A Provincial Survey. J Sex Res. 2017;54(2):161-71.
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of mental disorders – DSM-5. Arlington: American Psychiatric Association; 2013. Disponível em: https://psicovalero.files.wordpress.com/2014/06/dsm-v-manual-diagnc3b3stico-y-estadc3adstico-de-los-trastornos-mentales.pdf. Acessado em 2017 (16 mai).
Landy M. O Psiquiatra no Tribunal: o processo da perícia psiquiátrica em justiça penal. São Paulo: EDUSP; 1981.
Fedoroff JP. Forensic and diagnostic concerns arising from the proposed DSM-5 criteria for sexual paraphilic disorders. J Am Acad Psychiatry Law. 2011;39(2):238-41.
Chiswick D, Thompson DG. The relationship between crime and psychiatry. In: Shea SC, editor. Psychiatric Interviewing: the art of understanding a practical guide for psychiatrics, psychologists, counselors, social workers, nurses, and other mental health professionals. London: Elselvier; 1998. p. 701-27.
Potts SG, Crichton, JHM. Legal and ethical aspects of psychiatric. In: Shea SC, editor. Psychiatric Interviewing: the art of understanding a practical guide for psychiatrics, psychologists, counselors, social workers, nurses, and other mental health professionals. London: Elselvier; 1998. p.728-40.
Moura BD. Os crimes sexuais e a lei no 12.015/2009. Disponível em: www.jus.com.br/amp/artigos/37514/1. Acessado em 2017 (16 mai).
First MB. DMS-5 and paraphilic disorders. J Am Acad Psychiatry Law. 2014;42(2):191-201.
Serafim AP, Saffi F, Marques NM, Achá MFF, Oliveira MC. Avaliação neuropsicológica no direito penal. In: Saffi F, Achá MFF, Oliveira MC, Marques NM, Serafim AP, editores. Avaliação neuropsicológica forense. São Paulo: Pearson; 2017. p. 79-108.
Rigonatti SR, Baltieri DA. Transtornos mentais e comportamento violento. In: Miguel EC, Gentil V, Gattaz WF, editores. Clínica Psiquiátrica. Barueri: Editora Manole; 2011. p. 160-5.
Laws DR, Marshall WL. Masturbatory reconditiong with sexual deviates: An evaluative review. Advances in Behaviour Research and Therapy. 1991;13(1):13-25. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/014664029190012Y.Acessado em 2017 (16 mai).
McGuire RJ, Carlisle JM, Young BG. Sexual deviations as conditioned behavior: a hypothesis. Behav Res Ther. 1964;2(2-4):185-90.
Marquis JN. Orgasmic reconditioning: changing sexual object choice through controlling masturbation fantasies. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry. 1970;1(4):263-71.
Organização Mundial de Saúde. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Porto Alegre: ArtMed; 1993. p. 213-6.
Krueger RB, Reed GM, First MB, et al. Proposals for Paraphilic Disorders in the International Classification of Diseases and Health Problems, Eleventh Revesion (ICD-11). Arch Sex Behav. 2017;46(5):1529-45.
Alanko K, Gunst A, Mokros A, Santtila, P. Genetic Variants Associated With Male Pedophilic Sexual Interest. J Sex Med. 2016;13(5):835-42.