Influência da sedação na morbi-mortalidade em terapia intensiva

Autores

  • Geraldo Rolim Rodrigues Junior Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina
  • José Luiz Gomes do Amaral Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina

Palavras-chave:

Complicações, Mortalidade hospitalar, APACHE, Unidades de terapia intensiva, Cuidados intensivos

Resumo

CONTEXTO: Embora cerca de 30% a 50% dos pacientes hospitalizados em unidades de terapia intensiva (UTI) recebam algum tipo de sedativo, existe escassez de informações sobre efeitos adversos desta prática, especialmente no Brasil. Estes efeitos podem ser significantes e o uso de sedativos é associado a elevação de infecção e mortalidade, mesmo sendo difícil avaliar o impacto clínico deste procedimento. OBJETIVO: Avaliar o impacto da sedação sobre incidência de complicações e mortalidade em doentes graves durante internação em unidade de terapia intensiva. TIPO DE ESTUDO: Estudo prospectivo. LOCAL: Unidade de Terapia Intensiva Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina. PARTICIPANTES: Após excluídos pacientes que permaneceram menos de 24 horas ou sem exames indispensáveis para o cálculo do índice de gravidade (APACHE II), restaram 307 pacientes. Estes foram divididos em dois grupos: Grupo Sedado e Grupo Não Sedado. Constatada heterogeneidade com relação ao APACHE II, foram pareados 97 sedados e 97 não sedados com idênticos índices de gravidade. VARIÁVEIS ESTUDADAS: Impacto da sedação e das técnicas sobre a mortalidade, tempo de internação, além da incidência de escara de decúbito ou pressão, trombose venosa profunda e infecção. RESULTADOS: Não houve diferença na incidência de trombose venosa profunda, entre os grupos Sedado e Não Sedado, enquanto que escara de decúbito foi significativamente maior nos sedados (p = 0,03). Infecção foi detectada em 45,4% dos pacientes com sedação e em 21,6% dos pacientes sem sedação (p = 0,006). A mortalidade para os pacientes que não receberam qualquer tipo de sedativo foi de 20,6% e, para aqueles que foram sedados durante a internação, foi de 52,6% (p < 0,0001). CONCLUSÕES: Conclui-se que a sedação está associada a maior duração da internação, morbidade e mortalidade significativas. Apesar da intensidade das associações encontradas, não é possível estabelecer relação causal entre sedação e mortalidade.

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Biografia do Autor

Geraldo Rolim Rodrigues Junior, Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina

MD, PhD. Department of Anesthesiology, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, Brazil.

José Luiz Gomes do Amaral, Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina

MD, PhD. Professor of the Discipline of Anesthesiology, Pain and Surgical Intensive Care, Department of Surgery, Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina, São Paulo, Brazil.

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Publicado

2004-01-01

Como Citar

1.
Rodrigues Junior GR, Amaral JLG do. Influência da sedação na morbi-mortalidade em terapia intensiva. Sao Paulo Med J [Internet]. 1º de janeiro de 2004 [citado 16º de outubro de 2025];122(1):8-11. Disponível em: https://periodicosapm.emnuvens.com.br/spmj/article/view/2480

Edição

Seção

Artigo Original