Avaliação da ansiedade e qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos

Autores

  • Tathiana Pagano Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Luciana Akemi Matsutani Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Elisabeth Alves Gonçalves Ferreira Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Amélia Pasqual Marques Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
  • Carlos Alberto Pereira Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Fibromialgia, Qualidade de vida, Ansiedade, Questionários, Dor

Resumo

CONTEXTO: Fibromialgia é uma síndrome reumática caracterizada por dores músculo-esqueléticas difusas e crônicas e sítios dolorosos específicos à palpação, chamados de tender points, freqüentemente associados a fadiga, distúrbios do sono, rigidez matinal e, em alguns casos, dispnéia e ansiedade. Devido ao seu caráter crônico, a síndrome geralmente causa impacto negativo na qualidade de vida dos fibromiálgicos. OBJETIVO: Comparar a eficácia de instrumentos que avaliam a qualidade de vida de fibromiálgicos mensurada pelo Fibromyalgia Impact Questionnaire(FIQ) e pelo Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Healthy Survey (SF-36), e a ansiedade avaliada pelo Inventário de Ansiedade Traço-estado (IDATE). TIPO DE ESTUDO: Transversal. LOCAL: Ambulatório de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP). MÉTODOS: Participaram do estudo 80 sujeitos: 40 com fibromialgia (grupo teste) e 40 saudáveis (grupo controle). Três questionários (dois para avaliação de qualidade de vida – FIQ e SF-36 –; e um para ansiedade – IDATE) foram aplicados aos indivíduos dos dois grupos em uma única entrevista. Toda a análise estatística foi realizada utilizando-se o Teste “t” Student e o teste de Correlação de Pearson (r), com significância p < 0,05. Além disso, o teste estatístico Quiquadrado de Pearson, para homogeneidade, foi usado para comparar o grau de escolaridade entre os grupos teste e controle. RESULTADOS: Os resultados obtidos mostram que houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p = 0,00), indicando que os fibromiálgicos têm pior qualidade de vida e níveis mais altos de ansiedade. A correlação entre os três questionários foi alta (r = 0,90). DISCUSSÃO: O impacto negativo na qualidade de vida decorrente da Fibromialgia tem sido relatado em muitos estudos, nos quais os protocolos de avaliação são os principais istrumentos de medida. O FIQ é um instrumento utilizado em vários estudos clínicos para avaliar a função física. Este estudo comprovou a eficiência do FIQ para avaliar o impacto da fibromialgia sobre a qualidade de vida. O SF-36 é menos específico que o FIQ, mas também se mostrou eficiente para a avaliação da qualidade de vida de fibromiálgicos, uma vez que os discrimina dos indivíduos saudáveis. A ansiedade é considerada um sintoma secundário da fibromialgia e é freqüentemente grave nos casos de fibromialgia. Um dos instrumentos utilizados para avaliá-la é o IDATE. No presente estudo, apesar de apresentar resultados estatisticamente significantes quando analisado isoladamente, o IDATE mostrou-se menos eficaz que os demais instrumentos para distinguir o grupo teste do controle. Tratando-se mais especificamente da qualidade de vida, foi possível confirmar que o grupo teste apresenta pior qualidade de vida quando comparado ao controle. Isso foi demonstrado pelos dois instrumentos utilizados para avaliar a qualidade de vida (FIQ e SF-36). Quanto à ansiedade, apesar do IDATE ter sido o instrumento menos eficaz, pôde-se observar resultados significantes na avaliação dos grupos teste e controle, evidenciando que os pacientes com fibromialgia apresentam maior nível de ansiedade, tanto no estado como no traço. Portanto, os pacientes com fibromialgia têm níveis mais elevados de tensão, nervosismo, preocupação e apreensão (avaliados pela escala Aestado); e maior propensão à ansiedade (avaliada pela escala A-traço). CONCLUSÃO: Os três instrumentos utilizados mostraram ser eficazes para avaliar pacientes fibromiálgicos, porém o FIQ mostrou ser o mais eficaz para discriminar e avaliar o impacto da fibromialgia na qualidade de vida. Conclui-se que os pacientes fibromiálgicos têm pior qualidade de vida e níveis mais altos de ansiedade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Tathiana Pagano, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Physiotherapist, Department of Physiotherapy, Phonoaudiology and Occupational Therapy, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil.

Luciana Akemi Matsutani, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

MSc. Professor, Department of Physiotherapy, Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco, Osasco, São Paulo, Brazil.

Elisabeth Alves Gonçalves Ferreira, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

MSc. Professor of the physiotherapy course, Universidade Metodista and Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco, Osasco, São Paulo, Brazil.

Amélia Pasqual Marques, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

MD, PhD. Department of Physiotherapy, Phonoaudiology and Occupational Therapy, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil.

Carlos Alberto Pereira, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

MD, PhD. Professor of Statistics, Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil.

Referências

Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB, et al. The American Col- lege of Rheumatology 1990 Criteria for the Classification of Fibromyalgia. Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum. 1990;33(2):160-72.

Caidahl K, Lurie M, Bake B, Johansson G, Wetterqvist H. Dyspnoea in chronic primary fibromyalgia. J Inter Med. 1989;226(4):265-70.

Lurie M, Caidahl K, Johansson G, Bake B. Respiratory func- tion in chronic primary fibromyalgia. Scand J Rehabil Med. 1990;22(3):151-5.

Weiss DJ, Kreck T, Albert RK. Dyspnea resulting from fibro- myalgia. Chest. 1998;113(1):246-9.

Matsutani LA, Marques AP, Carvalho CRF, Ferreira EAG. Dispnéia na Fibromialgia. In press, 2004.

Martinez JE, Atra E, Ferraz MB, de Silva PSB. Fibromialgia: aspectos clínicos e socioeconômicos. Rev Bras Reumatol. 1992;32(5):225-30.

Wolf F, Aarflot T, Bruusgaard D, et al. Fibromyalgia and disability. Report of the Moss International Working Group on medico-legal aspects of chronic widespread musculoskeletal pain complaints and fibromyalgia. Scan J Rheumatol. 1995;24(2):112-8.

Henriksson C, Burckhardt C. Impact of fibromyalgia on ev- eryday life: a study of women in the USA and Sweden. Disabil Rehabil. 1996;18(5):241-8.

Gaskin ME, Greene AF, Robinson ME, Geisser ME. Negative affect and the experience of chronic pain. J Psychosom Res. 1992;36(8):707-13.

White KP, Speechley M, Harth M, Ostbye T. Comparing self- reported function and work disability in 100 community cases of fibromyalgia syndrome versus controls in London, Ontario: the London Fibromyalgia Epidemiology Study. Arthritis Rheum. 1999;42(1):76-83.

Krag NJ, Norregaard J, Larsen JK, Danneskiold-Samsøe B. A blinded, controlled evaluation of anxiety and depressive symptoms in patients with fibromyalgia, as measured by standardized psycho- metric interview scales. Acta Psychiatr Scand. 1994;89(6):370-5.

Martinez JE, Atra E, Fontana AM, et al. Aspectos psicológicos em mulheres com fibromialgia. [Psychological aspects in women with fibromyalgia]. Rev Bras Reumatol. 1992;32(2):51-60.

Yunus M, Masi AT, Calabro JJ, Miller KA, Feigenbaum SL. Primary fibromyalgia (fibrositis): clinical study of 50 patients with matched normal controls. Semin Arthritis Rheum. 1981;11(1):151-71.

Burckhardt CS, Clark SR, Bennett RM. The fibromyalgia im- pact questionnaire: development and validation. J Rheumatol. 1991;18(5):728-33.

Ware JE, Sherbourne CD. The MOS 36-item short-form health survey (SF-36). I. Conceptual framework and item selection. Med Care. 1992;30(6):473-83.

Ciconelli RM. Tradução para o português e validação do questioná- rio genérico de avaliação da qualidade de vida “Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36)”. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 1997.

Bombardier C, Melfi CA, Paul J, et al. Comparison of a generic and a disease-specific measure of pain and physical function after knee replacement surgery. Med Care. 1995;33(4 Suppl):AS131-44.

Dias RC. Impacto de um protocolo de Fisioterapia sobre a qualidade de vida de idosos com osteoartrite de joelhos. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 1999.

Spielberger DC, Gorsuch LR, Lushene ER. Inventário de Ansiedade Traço-Estado. Rio de Janeiro: Cepa; 1979.

Pássaro AC. A identificação do nível de dor e ansiedade em gestantes [monograph]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 1997.

Goldenberg DL, Mossey CJ, Schmid CH. A model to assess severity and impact of fibromyalgia. J Rheumatol. 1995;22(12):2313-8.

Hawley DJ, Wolfe F. Pain, disability, and pain/disability relation- ships in seven rheumatic disorders: a study of 1.522 patients. J Rheumatol. 1991;18(10):1552-7.

Martinez JE, Barauna Filho IS, Kubokawa KM, Cevasco G, Pedreira IS, Machado LAM. Avaliação da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia através do “Medical Outcome Survey 36 Item Short-Form Study”. Res Bras Reumatol. 1999;39:312-16.

Martinez JE, Ferraz MB, Sato EI, Atra E. Avaliação seqüencial do impacto fibromialgia e artrite reumatóide na qualidade de vida. [Sequential evaluation of the impact of fibromyalgia and rheumatoid arthritis in the quality of life]. Rev Bras Reumatol. 1994;34(6):309-16.

White KP, Nielson WR, Harth M, Ostbye T, Speechley M. Chronic widespread musculoskeletal pain with or without fibromyalgia: psychological distress in a representative commu- nity adult sample. J Rheumatol. 2002;29(3):588-94.

Bennett RM, Burckhardt CS, Clark SR, O’Reilly CA, Wiens AN, Campbell SM. Group treatment of fibromyalgia: a 6-month outpatient program. J Rheumatol. 1996;23(3):521-8.

Gowans SE, deHueck A, Voss S, Richardson M. A randomized, controlled trial of exercise and education for individuals with fibromyalgia. Arthritis Care Res. 1999;12(2):120-8.

Burckhardt CS, Mannerkorpi K, Hedenberg L, Bjelle A. A random- ized, controlled clinical trial of education and physical training for women with fibromyalgia. J Rheumatol. 1994;21(4):714-20.

Gowans SE, deHueck A, Voss S, Silaj A, Abbey SE, Reynolds WJ. Effect of a randomized, controlled trial of exercise on mood and physical function in individuals with fibromyalgia. Arthritis Rheum. 2001;45(6):519-29

Valim V. Estudo dos efeitos do condicionamento aeróbio e do alongamento na fibromialgia. [This study was to com- pare flexibility with aerobic physical fitness and improving symptoms]. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 2001.

Mengshoel AM, Haugen M. Health status in fibromyalgia – a followup study. J Rheumatol. 2001;28(9):2085-9.

Buskila D, Neumann L, Alhoashle A, Abu-Shakra M. Fibromyalgia syndrome in men. Semin Arthritis Rheum. 2000;30(1):47-51.

Gowans SE, DeHueck A, Abbey SE. Measuring exercise-induced mood changes in fibromyalgia: a comparison of several measures. Arthritis Rheum. 2002;47(6):603-9.

Schlenk EA, Erlen JA, Dunbar-Jacob J, et al. Health-related quality of life in chronic disorders: a comparison across studies using the MOS SF-36. Qual Life Res. 1998;7(1):57-65.

Martinez JE, Barauna Filho IS, Kubokawa K, Pedreira IS, Mach- ado LA, Cevasco G. Evaluation of the quality of life in Brazilian women with fibromyalgia, through the medical outcome survey 36 item short-form study. Disabil Rehabil. 2001;23(2):64-8.

Garratt AM, Ruta DA, Abdalla MI, Russell IT. Responsiveness of the SF-36 and a condition-specific measure of health for patients with varicose veins. Qual Life Res. 1996;5(2):223-34.

Gliklich RE, Hilinski JM. Longitudinal sensitivity of a generic and specific health measures in chronic sinusitis. Qual Life Res. 1995;4(1):27-32.

Downloads

Publicado

2004-11-11

Como Citar

1.
Pagano T, Matsutani LA, Ferreira EAG, Marques AP, Pereira CA. Avaliação da ansiedade e qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos. Sao Paulo Med J [Internet]. 11º de novembro de 2004 [citado 16º de outubro de 2025];122(6):252-8. Disponível em: https://periodicosapm.emnuvens.com.br/spmj/article/view/2547

Edição

Seção

Artigo Original