Avaliação da ansiedade e qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos
Palavras-chave:
Fibromialgia, Qualidade de vida, Ansiedade, Questionários, DorResumo
CONTEXTO: Fibromialgia é uma síndrome reumática caracterizada por dores músculo-esqueléticas difusas e crônicas e sítios dolorosos específicos à palpação, chamados de tender points, freqüentemente associados a fadiga, distúrbios do sono, rigidez matinal e, em alguns casos, dispnéia e ansiedade. Devido ao seu caráter crônico, a síndrome geralmente causa impacto negativo na qualidade de vida dos fibromiálgicos. OBJETIVO: Comparar a eficácia de instrumentos que avaliam a qualidade de vida de fibromiálgicos mensurada pelo Fibromyalgia Impact Questionnaire(FIQ) e pelo Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Healthy Survey (SF-36), e a ansiedade avaliada pelo Inventário de Ansiedade Traço-estado (IDATE). TIPO DE ESTUDO: Transversal. LOCAL: Ambulatório de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP). MÉTODOS: Participaram do estudo 80 sujeitos: 40 com fibromialgia (grupo teste) e 40 saudáveis (grupo controle). Três questionários (dois para avaliação de qualidade de vida – FIQ e SF-36 –; e um para ansiedade – IDATE) foram aplicados aos indivíduos dos dois grupos em uma única entrevista. Toda a análise estatística foi realizada utilizando-se o Teste “t” Student e o teste de Correlação de Pearson (r), com significância p < 0,05. Além disso, o teste estatístico Quiquadrado de Pearson, para homogeneidade, foi usado para comparar o grau de escolaridade entre os grupos teste e controle. RESULTADOS: Os resultados obtidos mostram que houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p = 0,00), indicando que os fibromiálgicos têm pior qualidade de vida e níveis mais altos de ansiedade. A correlação entre os três questionários foi alta (r = 0,90). DISCUSSÃO: O impacto negativo na qualidade de vida decorrente da Fibromialgia tem sido relatado em muitos estudos, nos quais os protocolos de avaliação são os principais istrumentos de medida. O FIQ é um instrumento utilizado em vários estudos clínicos para avaliar a função física. Este estudo comprovou a eficiência do FIQ para avaliar o impacto da fibromialgia sobre a qualidade de vida. O SF-36 é menos específico que o FIQ, mas também se mostrou eficiente para a avaliação da qualidade de vida de fibromiálgicos, uma vez que os discrimina dos indivíduos saudáveis. A ansiedade é considerada um sintoma secundário da fibromialgia e é freqüentemente grave nos casos de fibromialgia. Um dos instrumentos utilizados para avaliá-la é o IDATE. No presente estudo, apesar de apresentar resultados estatisticamente significantes quando analisado isoladamente, o IDATE mostrou-se menos eficaz que os demais instrumentos para distinguir o grupo teste do controle. Tratando-se mais especificamente da qualidade de vida, foi possível confirmar que o grupo teste apresenta pior qualidade de vida quando comparado ao controle. Isso foi demonstrado pelos dois instrumentos utilizados para avaliar a qualidade de vida (FIQ e SF-36). Quanto à ansiedade, apesar do IDATE ter sido o instrumento menos eficaz, pôde-se observar resultados significantes na avaliação dos grupos teste e controle, evidenciando que os pacientes com fibromialgia apresentam maior nível de ansiedade, tanto no estado como no traço. Portanto, os pacientes com fibromialgia têm níveis mais elevados de tensão, nervosismo, preocupação e apreensão (avaliados pela escala Aestado); e maior propensão à ansiedade (avaliada pela escala A-traço). CONCLUSÃO: Os três instrumentos utilizados mostraram ser eficazes para avaliar pacientes fibromiálgicos, porém o FIQ mostrou ser o mais eficaz para discriminar e avaliar o impacto da fibromialgia na qualidade de vida. Conclui-se que os pacientes fibromiálgicos têm pior qualidade de vida e níveis mais altos de ansiedade.
Downloads
Referências
Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB, et al. The American Col- lege of Rheumatology 1990 Criteria for the Classification of Fibromyalgia. Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum. 1990;33(2):160-72.
Caidahl K, Lurie M, Bake B, Johansson G, Wetterqvist H. Dyspnoea in chronic primary fibromyalgia. J Inter Med. 1989;226(4):265-70.
Lurie M, Caidahl K, Johansson G, Bake B. Respiratory func- tion in chronic primary fibromyalgia. Scand J Rehabil Med. 1990;22(3):151-5.
Weiss DJ, Kreck T, Albert RK. Dyspnea resulting from fibro- myalgia. Chest. 1998;113(1):246-9.
Matsutani LA, Marques AP, Carvalho CRF, Ferreira EAG. Dispnéia na Fibromialgia. In press, 2004.
Martinez JE, Atra E, Ferraz MB, de Silva PSB. Fibromialgia: aspectos clínicos e socioeconômicos. Rev Bras Reumatol. 1992;32(5):225-30.
Wolf F, Aarflot T, Bruusgaard D, et al. Fibromyalgia and disability. Report of the Moss International Working Group on medico-legal aspects of chronic widespread musculoskeletal pain complaints and fibromyalgia. Scan J Rheumatol. 1995;24(2):112-8.
Henriksson C, Burckhardt C. Impact of fibromyalgia on ev- eryday life: a study of women in the USA and Sweden. Disabil Rehabil. 1996;18(5):241-8.
Gaskin ME, Greene AF, Robinson ME, Geisser ME. Negative affect and the experience of chronic pain. J Psychosom Res. 1992;36(8):707-13.
White KP, Speechley M, Harth M, Ostbye T. Comparing self- reported function and work disability in 100 community cases of fibromyalgia syndrome versus controls in London, Ontario: the London Fibromyalgia Epidemiology Study. Arthritis Rheum. 1999;42(1):76-83.
Krag NJ, Norregaard J, Larsen JK, Danneskiold-Samsøe B. A blinded, controlled evaluation of anxiety and depressive symptoms in patients with fibromyalgia, as measured by standardized psycho- metric interview scales. Acta Psychiatr Scand. 1994;89(6):370-5.
Martinez JE, Atra E, Fontana AM, et al. Aspectos psicológicos em mulheres com fibromialgia. [Psychological aspects in women with fibromyalgia]. Rev Bras Reumatol. 1992;32(2):51-60.
Yunus M, Masi AT, Calabro JJ, Miller KA, Feigenbaum SL. Primary fibromyalgia (fibrositis): clinical study of 50 patients with matched normal controls. Semin Arthritis Rheum. 1981;11(1):151-71.
Burckhardt CS, Clark SR, Bennett RM. The fibromyalgia im- pact questionnaire: development and validation. J Rheumatol. 1991;18(5):728-33.
Ware JE, Sherbourne CD. The MOS 36-item short-form health survey (SF-36). I. Conceptual framework and item selection. Med Care. 1992;30(6):473-83.
Ciconelli RM. Tradução para o português e validação do questioná- rio genérico de avaliação da qualidade de vida “Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36)”. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 1997.
Bombardier C, Melfi CA, Paul J, et al. Comparison of a generic and a disease-specific measure of pain and physical function after knee replacement surgery. Med Care. 1995;33(4 Suppl):AS131-44.
Dias RC. Impacto de um protocolo de Fisioterapia sobre a qualidade de vida de idosos com osteoartrite de joelhos. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 1999.
Spielberger DC, Gorsuch LR, Lushene ER. Inventário de Ansiedade Traço-Estado. Rio de Janeiro: Cepa; 1979.
Pássaro AC. A identificação do nível de dor e ansiedade em gestantes [monograph]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 1997.
Goldenberg DL, Mossey CJ, Schmid CH. A model to assess severity and impact of fibromyalgia. J Rheumatol. 1995;22(12):2313-8.
Hawley DJ, Wolfe F. Pain, disability, and pain/disability relation- ships in seven rheumatic disorders: a study of 1.522 patients. J Rheumatol. 1991;18(10):1552-7.
Martinez JE, Barauna Filho IS, Kubokawa KM, Cevasco G, Pedreira IS, Machado LAM. Avaliação da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia através do “Medical Outcome Survey 36 Item Short-Form Study”. Res Bras Reumatol. 1999;39:312-16.
Martinez JE, Ferraz MB, Sato EI, Atra E. Avaliação seqüencial do impacto fibromialgia e artrite reumatóide na qualidade de vida. [Sequential evaluation of the impact of fibromyalgia and rheumatoid arthritis in the quality of life]. Rev Bras Reumatol. 1994;34(6):309-16.
White KP, Nielson WR, Harth M, Ostbye T, Speechley M. Chronic widespread musculoskeletal pain with or without fibromyalgia: psychological distress in a representative commu- nity adult sample. J Rheumatol. 2002;29(3):588-94.
Bennett RM, Burckhardt CS, Clark SR, O’Reilly CA, Wiens AN, Campbell SM. Group treatment of fibromyalgia: a 6-month outpatient program. J Rheumatol. 1996;23(3):521-8.
Gowans SE, deHueck A, Voss S, Richardson M. A randomized, controlled trial of exercise and education for individuals with fibromyalgia. Arthritis Care Res. 1999;12(2):120-8.
Burckhardt CS, Mannerkorpi K, Hedenberg L, Bjelle A. A random- ized, controlled clinical trial of education and physical training for women with fibromyalgia. J Rheumatol. 1994;21(4):714-20.
Gowans SE, deHueck A, Voss S, Silaj A, Abbey SE, Reynolds WJ. Effect of a randomized, controlled trial of exercise on mood and physical function in individuals with fibromyalgia. Arthritis Rheum. 2001;45(6):519-29
Valim V. Estudo dos efeitos do condicionamento aeróbio e do alongamento na fibromialgia. [This study was to com- pare flexibility with aerobic physical fitness and improving symptoms]. [thesis] São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo; 2001.
Mengshoel AM, Haugen M. Health status in fibromyalgia – a followup study. J Rheumatol. 2001;28(9):2085-9.
Buskila D, Neumann L, Alhoashle A, Abu-Shakra M. Fibromyalgia syndrome in men. Semin Arthritis Rheum. 2000;30(1):47-51.
Gowans SE, DeHueck A, Abbey SE. Measuring exercise-induced mood changes in fibromyalgia: a comparison of several measures. Arthritis Rheum. 2002;47(6):603-9.
Schlenk EA, Erlen JA, Dunbar-Jacob J, et al. Health-related quality of life in chronic disorders: a comparison across studies using the MOS SF-36. Qual Life Res. 1998;7(1):57-65.
Martinez JE, Barauna Filho IS, Kubokawa K, Pedreira IS, Mach- ado LA, Cevasco G. Evaluation of the quality of life in Brazilian women with fibromyalgia, through the medical outcome survey 36 item short-form study. Disabil Rehabil. 2001;23(2):64-8.
Garratt AM, Ruta DA, Abdalla MI, Russell IT. Responsiveness of the SF-36 and a condition-specific measure of health for patients with varicose veins. Qual Life Res. 1996;5(2):223-34.
Gliklich RE, Hilinski JM. Longitudinal sensitivity of a generic and specific health measures in chronic sinusitis. Qual Life Res. 1995;4(1):27-32.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.